A noite de Quarta-feira, dia 20 de Dezembro de 2005, modificou irreversivelmente e definitivamente o mundo televisivo português e, diria mesmo, mundial. Foi ver
milhões de portugueses pregados aos televisores, mais colados ao ecrã que os saudosos DOTs. Não sei se se lembram. Eram aqueles discos de cartão com super cola 3 de um lado que nos davam nas gasolineiras para espetarmos na televisão, mesmo a tapar o canto superior direito do nosso programa favorito.
O que feito dos DOTs? Ninguém sabe. Devem andar por aí, a vaguear pelas ruas, já sem cola e ao frio, desolados e magoados com o esquecimento a que foram remetidos. Pobres coitados…
Mas estava a falar-vos de como esta noite de Quarta-Feira mudou a vida dos portugueses. E, como é óbvio, não estou a referir-me ao debate entre os dois maiores candidatos à Presidência da República (maiores porque
o Cavaco tem quase dois metros e meio, que eu já lhe apertei a mão e sei, e o Soares, só
com aquelas bochechas fazia um cobertor para o António Vitorino) que por um acaso espantoso também decorreu neste dia. Não, porque o debate deve ter tido
menos audiências que o canal 2 numa tarde de Domingo. Mas alguém viu debate? É claro que não! As pessoas não tinham cabeça para debates nem para o que quer que fosse.
“Porquê?”, pergunta o leitor mais distraído e que tenha vivido os últimos nove meses numa caverna escura selada com uma parede de cimento armado com 7 metros de espessura. Porque foi o dia de finalmente todo o povo português saber
quem raio matou o António. É que já não se aguentava com o clima de suspense e de suspeição que estava no ar. Todos suspeitavam de todos. Eu já tinha avisado que estava inocente, mas a certa altura, já nem eu próprio sabia se tinha sido eu a matar o António. É que isto às vezes há coisas do diabo…

Mas finalmente
Portugal suspirou de alívio. Ao que parece, foi a “so-called” Guida, mas não vos estou a dar novidade nenhuma. Só que mais que o próprio final, fiquei estupefacto, isso sim, com toda a cobertura que a TVI deu ao encerramento, ao fim de quase três anos (pelas minhas contas, não muito fiavéis...) de uma novela. É que, no fundo,
era uma novela como todas as outras.
Tinha uma história minimamente interessante, embora descambasse a maior parte das vezes em fantasias rocambolescas e surreais. (Vejam ao ponto a que este Blog chegou: a discutir novelas! Não lhe dou mais de duas semanas…)
As interpretações também variavam entre o arrebatador (como as de Alexandra Lencastre e de São José Correia) e
o miseravelmente mau (Benedita Pereira, claro está, (a provar que não basta ser-se bem servido de glândulas mamárias para se ser actriz, embora ajude...) e mais uma série de canastrões). Chegava a ter momentos de
verdadeiras overdoses de má representação que fariam o Shakespear, se fosse vivo, fumar umas brocas, bater com a cabeça na parede durante meia hora, fumar mais brocas (sim, porque não somos só nós que temos poetas viciados em produtos com capacidade para alterar a escrita) e
matar-se com a pena com que escreveu Romeu e Julieta.
Esta novela só não tinha gémeos, o que lhe tira logo metade do interesse. Já para não falar no facto de ser
a novela mais gay de todos os tempos, uma novela tão maricas que conseguiria deixar Elton John e George Michael enjoados com tanta paneleirisse (termo técnico televisivo)…
O único e grande mérito desta novela foi o de agarrar mais portugueses que a mania do
colete reflector no banco do pendura.
Se a novela não era assim tão especial, o que justificou todo aquele aparato, toda aquela pompa e circunstância? E pergunta novamente o chato do leitorvindo de Marte:
“Mas que pompa e circunstância?” Olhe homem, antes de mais, não gosto que me façam tantas perguntas. Está farto de me interromper e isso é muito deseducado da sua parte. E depois, onde raio tem andado você? Deve fazer dos 3,5% da população portuguesa que ou por não ter televisão ou por ser extremamente intelectual, não viu a TVI nesta noite tão especial.
Não tem vergonha?Foi um momento histórico! Mal o Jornal Nacional acabou, logo um repórter interrompeu a emissão para explicar a mega-operação em curso. É que a porcaria da cassete com o último episódio (a propósito, pensava que actualmente eles tivessem coisas mais actualizadas que a pré-histórica cassete. Caramba, já ninguém usa as outrora fitas mágicas. Até o DVD já começa a ser um bocadinho ultrapassado, por Deus! A TVI estará assim tão mal de finanças que não possa digitalizar as suas produções? Qualquer dia passam a emitir outra vez em preto e branco….) fez
uma viagem tão ridiculamente espectacular, que mais parecia que a caixa estava era
cheia de diamantes. A malfadada cassete saiu dos Escritórios da NBP e viajou numa carinha de segurança até aos estúdios da TVI, sempre vigiada de perto por um Helicóptero. Depois, a mala com a cassete foi algemada ao braço de um capanga, que a levou até ao interior dos estúdios, onde posteriormente a colocou num cofre, objecto normalmente usado para guardar objectos de grande valor, como barras de ouro, pedras preciosas ou
Merchandise Oficial do Sporting.
Mas para quê tudo isto? Tinham medo que algum maluco roubasse a cassete e pedisse um resgate? Estou mesmo a ver: “Se não me derem o dinheiro até às seis da tarde, queimo a cassete com gasolina e nunca ninguém saberá quem matou o António! Muah ah ah ah ah!”
A não ser que a cassete contenha mais do que um simples episódio. Penso, aliás, tenho a certeza que esta história
está muito mal contada. É só a mim que isto cheira a esturro, ou será que estou a deixar queimar os cogumelos?
É que quem matou o António não foi a Guida, mas a
Sofia Aparício em pessoa! A cassete, ao contrário do que toda a gente pensa, foi levada não para os Estúdios da TVI mas para o Tribunal de Investigação Criminal. E toda esta segurança foi para evitar que um grupo de ninjas sanguinários contratados pela modelo e pseudo-actriz furtassem a cassete, ilibando-a de qualquer acusação por falta de provas. E a seguir, é claro, ela já poderia
dominar o mundo e soltar o seu sorriso maquiavélico, não fosse toda aquela alta segurança estragar-lhe os planos. Podemos estar perante um verdadeiro caso de polícia, e a verdade virá ao de cima quando Sofia Aparício for finalmente presa pelo homicídio de António Paiva Calado.
Ou isto, ou os fulanos da TVI estão realmente com um
défice da sua capacidade cerebral.
A escolha é vossa…
Mas o que é certo é que
não fui eu que matei o António... Ufa!
Um Obrigadinho bem Português
O sempre vosso e mais aliviado GK